Friday, May 12, 2006

CONSCIÊNCIA PÓSTUMA

Nada me importa deste lúgubre momento;
mesmo assim, o espírito apavora-se em
tenebrosos tormentos.

Fui apenas um reflexo do que realmente fui.
Assim sou eu, assim somos nós, para nossa
decadência ou nossa salvação.

Realizei quase tudo do que me foi permitido sonhar.
Para tantas outras, nem o sonho, conseguiram tolerar.

Um mortal crepúsculo vespertino toma-me,
e o sopro finito de vida abandona-me.
Neste momento, o que resta de mim?

E pensar que tive uma chance para viver,
e agora sobeja-me a eternidade toda para jazer.


Tombado, de permeio num recinto,
que em vida nunca tinha adentrado, encontro-me.
Longínqua, escuto a voz de um hiberbólico orador
referindo-se a mim, a despeito da ínfima distância
que nos separa.

Olho ao meu derredor; um rosto amigo, não consigo identificar.
Assusto-me sozinho, familiares, tardam a chegar.

Nesse momento, novamente, observo o meu corpo corrompido,
e ouço, como quem ouve de um espelho,
a falar-me, o meu reflexo sucumbido.

Dize-me: eis aqui um homem perfeito.
Perfeito não por essência, perfeito não por
aprimoração, mas, perfeito, por condição.

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